Os Estados Unidos vetaram nesta sexta-feira uma exigência do Conselho de Segurança da ONU por um cessar-fogo humanitário imediato na guerra entre Israel e o grupo militante palestino Hamas em Gaza, deixando Washington diplomaticamente isolado enquanto protege seu aliado.
Treze membros do Conselho de Segurança votaram a favor de um breve projeto de resolução, apresentado pelos Emirados Árabes Unidos. O Reino Unido se absteve. A votação foi realizada depois de o secretário-geral da ONU, António Guterres, tomar a rara atitude de formalmente alertar na quarta-feira os 15 membros do conselho para uma ameaça global da longa guerra de dois meses.
“Qual é a mensagem que estamos enviando aos palestinos se não conseguirmos unir-nos num apelo para interromper o bombardeio implacável de Gaza?”, questionou ao conselho o vice-embaixador dos Emirados Árabes Unidos na ONU, Mohamed Abushahab.
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EUA e Israel são contra um cessar-fogo porque acreditam que ele beneficiaria apenas o Hamas. Washington prefere apoiar pausas nos combates para proteger civis e permitir a libertação de reféns tomados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro em Israel.
O vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, disse ao conselho que o projeto de resolução era um texto desequilibrado “que estava divorciado da realidade” e que não avançaria a situação de forma concreta.
“Embora os Estados Unidos apoiem fortemente uma paz duradoura em que tanto israelenses como palestinos possam viver em paz e segurança, não apoiamos o apelo desta resolução a um cessar-fogo insustentável que apenas irá plantar as sementes para a próxima guerra”, disse Wood.
A embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, disse que o seu país se absteve porque não houve condenação do Hamas.
“Israel precisa ser capaz de enfrentar a ameaça representada pelo Hamas e precisa fazer isso de uma forma que respeite o direito humanitário internacional, para que tal ataque nunca mais possa ser realizado novamente”, disse ela ao conselho.
Os EUA favorecem a sua própria diplomacia em detrimento da ação do Conselho de Segurança para obter a libertação de mais reféns e pressionar Israel a proteger melhor os civis em Gaza enquanto retalia o Hamas.
No entanto, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reconheceu na quinta-feira que havia um “gap” entre a intenção de Israel de proteger os civis e o que tem acontecido efetivamente. O Ministério da Saúde de Gaza afirma que mais de 17.480 pessoas foram mortas.
Israel tem bombardeado Gaza pelo ar, impôs um cerco e lançou uma ofensiva terrestre. A grande maioria dos 2,3 milhões de habitantes do enclave palestino foi deslocada das suas casas.
“Não há uma proteção efetiva dos civis”, disse Guterres ao conselho nesta sexta-feira. “O povo de Gaza está sendo ordenado a se mudar como pinballs humanos — ricocheteando entre zonas cada vez menores do sul, sem o básico para sobreviver. Mas nenhum lugar em Gaza é seguro.”
Uma pausa de sete dias — durante a qual o Hamas libertou alguns reféns e houve um aumento de auxílio humanitário em Gaza — acabou em 1º de dezembro.
Após várias tentativas sem sucesso, o Conselho de Segurança cobrou pausas nos combates no mês passado para permitir o acesso de ajuda à Gaza, descrita nesta sexta-feira por Guterres como um “pesadelo humanitário em espiral”.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse ao Conselho de Segurança nesta sexta que havia um cessar-fogo que foi violado pelo Hamas em 7 de outubro.
“A ironia é que a estabilidade regional e a segurança tanto dos israelenses como dos habitantes de Gaza só podem ser alcançadas quando o Hamas for eliminado, nem um minuto antes”, disse Erdan. “Portanto, o verdadeiro caminho para garantir a paz é apenas através do apoio à missão de Israel — absolutamente não apelando a um cessar-fogo.”
Edição: Vinicius Lisboa
Fonte: Agência Brasil
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